sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Entregue aos momentos

Barquinho de papel, de Andrea Honaiser

A chuva soa saudade na calçada.
Pés descalços, cabelos esvoaçantes,
Corpos lavados pela pureza,
As crianças, movidas pela ilusão,
Soltam barquinhos de esperança
Nas águas maculadas pelo descaso.
O sol que espreitava sombrio
Entre nuvens desiludidas,
Encontra brechas e estimula
Seus raios que brincam de pegar,
Pintando a calçada.
As crianças vacilam
Entre as sombras projetadas
E os barquinhos que lutam
Para não se esvaírem e sumirem.
Alvoroçado com o sol,
Um pássaro sai de seu esconderijo.
Atrai-o a algazarra,
Vozes que preenchem a calma
Da tarde de verão,
Sentinelas da vida
Que vencem a monotonia.
Enternecida, a ave  interrompe sua rota
E pousa na árvore próxima.
Deseja testemunhar
Os mágicos momentos,
Pedaços de sonho,
Embrenhados no tempo
Como joia rara,
Tesouro guardado
No baú das recordações.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tempos Idos






























Houve tempos sem agruras
Em que a vida se dissolvia
Nas canções das tardes macias.

Houve tempos sem desatinos
Em que os devaneios supriam
As lacunas dos dias sombrios.

Houve tempos sem encruzilhadas
Em que a imaginação tramava
Os caminhos do destino arredio.

Houve tempos sem malícias
Em que a doçura apontava
As esquinas da sorte fugidia.

Houve tempos sem desilusões
Em que a crença aconchegava
As vontades dos corações singelos.

Houve tempos sem tormentos
Em que o cuidado enriquecia
Roteiros desenhados pela fragilidade.

Houve tempos sem saudades
Em que as palavras escreviam
Enredos plenos de afetos cruzados.

Houve tempos sem pressa
Em que o talento norteava
A cadência dos passos da poesia.


Mardilê Friedrich Fabre

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Distante




Distante

Mistério pendurado em tarde que se evola.
Na face do tempo, acolhida,
A paz se enleia aos doces arpejos da viola.
Cada nota recém-nascida
Ressoa no trato distante
Da frase em domingo dançante,
Que, embora dita ao léu, suscitou fantasia,
E a centelha da poesia
Ardeu dourada, confortante.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: www.whatsappimagens.com

Teoria:
http://comocriarpoemas.blogspot.com.br/2015/03/la-bruna.html

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Inquietudes


Há uma fugacidade incontrolável
No minuto que muda a vida.
O olhar espreita o insondável
Da inquietação monocórdica adormecida.

Ninguém destrói o imortal do sonho
Que preenche a vaguidão do nada.
O tempo, em sigilo tristonho,
Constrói trajetos com a sorte lançada.

As ranhuras das lembranças sustentam
Os cansaços das verdades espelhadas
Nos redutos dos desejos que alimentam
Murmúrios de perturbações ceifadas.

Nas migrações das almas inquietas
Desaparecem os conflitos e as decepções,
Que criavam ramas e feriam como setas,
Estancando os sentires firmes das relações.

Por tablados arredios das histórias,
Que revelam virgens roteiros,
As suspeitas se arrastam inglórias,
Movidas por fogos-fátuos certeiros.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google