sexta-feira, 29 de março de 2013

E eis o outono! (haicais)




Filhotes no ninho
protegem-se do perigo.
Noitinha de outono.
  
O vale desperta
tomado pela neblina.
Encostas ocultas.

Retorno do outono.
Vento leva as folhas da árvore
sem nenhuma pena.
  
Dispersa-se a chuva.
Arco-íris no céu de outono,
encanta as crianças.




No pomar do sítio,
frutas amadurecidas.

Banquete das aves.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google


sexta-feira, 22 de março de 2013

Afasia



Debruçada na noite,
A solidão emaranha as estrelas,
Ofuscando seu delicado cintilar,
Ou são meus olhos lúgubres pelo tempo
Que se acostumaram com as ausências
E as distâncias parasitas das existências abandonadas?
É esse hábito de saudade
Que o outono recende em meus pensamentos,
Que resistem em vir à tona,
Impotentes,
Desanimados,
Sufocados,
Paralisados,
Triturando o âmago sem complacência.
Não são medos, mas impotência
De andar lado a lado com o tempo
Para não perdê-lo
E não ser arrastada para suas teias.
A garganta fecha-se,
E a voz aniquila-se,
Estrangulada pelas sensações desditas.
As palavras, atônitas, não encontram caminhos,
Ficam enclausuradas nos ecos das desolações.
As mensagens estagnadas no vazio
Desencadeiam vivências modificadas
Que travam luta tenaz com o silêncio
Para romper a barreira imposta.
Atravessá-la com bravura
E transparecer em versos lapidados,
Distribuindo calor,
Desfazendo armadilhas da vida,
Escapando dos adeuses,
Controlando encantos de encontros,
Perfumando sonhos de menina,
Colorindo cenários cinza,
Perpetuando sortilégios nas paredes dos momentos.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 15 de março de 2013

Diante do Espelho


Quem é esta jovem
Que me analisa do espelho?
Seu olhar cálido
Verte nostalgia pelo tempo
Que não parou.
Suas mãos brancas seguram saudades
Entre as rosas vermelhas da paixão.
Seus cabelos ruivos
Emolduram um rosto translúcido
Sem medo de perpassar um mundo desgovernado
Que se reflete na minha frente
Para dizer-me
Que a memória não me trai,
Que um dia estivemos juntas;
Para lembrar-me
Que ela me mostrou
Como andar firme
Pelos intrincados caminhos da existência.
Seu terno sorriso fala-me também
De príncipes valentes
Que casam com princesas encantadas,
De homens bons
Que mudam os rumos de seus países,
De afeto e principalmente de esperança.
Sua imagem esmaece pouco a pouco
Ante meus olhos lacrimejantes.
E, no mesmo espelho, outra imagem,
Também com um sorriso largo, segura,
De quem está de posse da vida,
Estende-me amor
Entre as rosas vermelhas da paixão.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher



Lança ternura sobre um mundo
Que a açoita, a maltrata e a persegue.
Responde com zelo profundo
À violência à que é entregue.

É perspicaz e companheira,
Empunha a bandeira da esperança
Onde encontra cegueira.
Não foge. Toma liderança.

Vai adiante. É guerreira e forte.
Luta. Enfrenta os desafios,
Tenta de sul a norte.
Sábia, preenche seus vazios.

Sua beleza é natural,
Vem das virtudes que cultiva.
Liberta do martírio o igual,
Está sempre alerta. É ativa.

Deus a criou perfeita obra-prima
Com sentimento e poesia.
Seu rosto sossegado anima
A sombria melancolia.

É deusa. Tem-lhe inveja a lua,
Cantam-na músicos e vates.
Seu bem-querer se perpetua,
Vence todos os embates.



Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 1 de março de 2013

Ao cair da tarde...

Entardecer

Céu rajado,
O sol se deita.
Mágicos momentos
Paralisam a vida.
Reflexos multicoloridos
No espelho da água.
Autor: Deus.



O dia termina,
e o sol lança-se no rio.
Fúlgida emoção.

 

Lusco-fusco

Céu vermelho-alaranjado...
Vultos indefiníveis...
Descamba o sol no horizonte...



É a hora do ângelus. Entardece.
O meu coração recolhe-se em prece.
Toda a natureza louva o Senhor...
O sol deixa-se levar... Adormece.

 

Na boca da noite...

A passarada
Volta para seus ninhos.
Celeuma na árvore.

Hora vagarosa.
É reverência
Ao dia
Que agoniza...


Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google