sexta-feira, 30 de maio de 2014

Permito-me...






Permito-me divisar o tempo que passa
E embalar-me na rede das lembranças.
Permito-me caminhar ao léu
E seguir o rumo do sonho do poeta.
Permito-me sentar à beira-mar
E ouvir as ternas canções das ondas.
Permito-me percorrer descalça o jardim
E observar o alvoroço das flores apaixonadas.
Permito-me chorar a insensibilidade do mundo
E gritar a dor de mãos famintas estendidas.
Permito-me ultrapassar sozinha as dificuldades
E conseguir atingir meu lado harmônico.
Permito-me vestir-me com o brilho das estrelas
E alentar os corações aflitos.
Permito-me ser o sol da melodia ímpar
E curar os dós daqueles que se maltratam.

 

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Croqui de mim


Na quietude do coração inerte,

Fios de poesia a mente verte.

Deslizam palavras de refrigério.

Tão longe está de mim teu rosto sério!


Em que curva da trilha te perdi?

Sozinho, sou simplesmente um croqui.

Vinham-me de ti a cor e o relume.

Ao teu encalço, olho a alma que rume.


Debalde perambulo pelo mundo,

Guardando este sentimento profundo.

É enorme o vazio ao meu redor,

Lembranças fazem-me sentir melhor.


Tecem nosso encontro minhas quimeras,

Tudo não passa de loucuras meras.

O desejo meu corpo todo invade

E faz-me teu escravo sem piedade.




Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Exortação ao Poeta




Senta-se o poeta para escrever. Entretanto, escrever sobre o quê? Que tema não foi cantado desde tempos longínquos por outros poetas? O que ainda não foi dito?


 E o poeta, caneta na mão (sim, porque ele prefere caneta a teclado), sonda a mente. Procura algo inédito, que nunca tenha sido tema de poesia. E assim o encontro, neste estado letárgico. 


         Ora, poeta, por que te preocupas? Deixa a tua alma conduzir-te. Relaxa a mão e o coração e encontrarás a trilha. É a tua visão sobre o mundo que interessa. Qual a importância de o amor ter sido motivo de poemas desde que existem poetas? O notável é que cada um aborda sua maneira de senti-lo. 


Não deixes o tempo fugir, poeta. Cada momento é único. Não prives o mundo da tua verve. Ele precisa do encanto das tuas palavras, da força do teu pensamento e da perfeição das tuas rimas.

, a lua te espiona entre os galhos das árvores, as estrelas piscam para ti, e os vaga-lumes perambulam, exibindo-se.

 Não te aflijas, poeta. Não tenhas pressa, nas entrelinhas da noite, que te inunda, então conseguirás colorir os dias insípidos, iluminar os dilemas, reavivar a lassidão das almas, resgatar sonhos adormecidos, restaurar sentimentos exauridos pelos desenganos. 

Escreve, poeta. Teus versos podem transformar lágrimas em sorrisos, tornar brilhantes olhos que se decepcionaram, incitar histórias com fantasia e esperança.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Mãe Preta






Quantos filhos tens, Mãe Preta?
Tua existência é parir,
Então não sabes ao certo.
Alguns são negros decerto,
De ti roubados, vendidos,
Longe, sem rumo, perdidos;
Outros brancos, que da teta
Sugam-te o leite nutrício.
Presa estás a este suplício
De ver o anjinho preto ir
E logo vir um branquinho
A quem darás teu carinho.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Inesquecíveis





Bibiana
Em sua cadeira de balanço, escuta
Bibiana o vento que atormenta as árvores.
Lembra-se, então, de outras vidas que vivera...
Em sua cadeira de balanço, escuta
Bibiana fantasmas que não a abandonaram.
Vaticina ainda sã: “Noite de vento
É noite de mortos”. No seu vaivém, ouve
Bibiana fantasmas que não a abandonaram.


(Personagem do livro “O tempo  o vento”, de Érico Veríssimo.)




Mariam e Laila

Vertem dores pelas páginas da vida.
Os homens roubaram-lhes os sonhos.
Torturadas... corpos precocemente envelhecidos,
Lutaram pelos filhos.
O amor
Despertou-as.


(Personagens do livro A cidade do sol, de Khaled Hosseim)

Mardilê Friedrich Fabre
Imagens: Google