sexta-feira, 24 de abril de 2015

Azuis



São azuis as borboletas
Pousadas na saudade
Dos dias iluminados
Da minha infância dourada.

São azuis os olhos
Que me fitam
Da transparência lúdica
Da afeição concretizada
Na eternidade do amor.

São azuis as palavras
Embriagadas do perfume
Da poesia vibrante de delírios
Estampada pela desatinada paixão
Do insensato poeta.


São azuis as pétalas
Que me banham o corpo
Com a sensatez mediúnica
Da resignação dominada
Com a qual atinjo
Os limites de mim mesma.

São azuis os segredos
Murmurados ao compasso
Da fugacidade das horas
Impregnadas de desalento.

São azuis as ilusões
Semeadas nas frações
Entre sentimentos imprecisos,
Sem laços nem abraços,
Sem ternura nem calor,
Que se dissolveram no abismo
Da amargura da noite fria.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Vida poeta



A minh´alma, coitada! Entrou em coma,
Viaja pelo mundo com o olhar.
Nem mais da rosa sente o aroma.
Sensível, eu fraquejo. Poetar?
Como? Se o verso fácil não assoma?

A rima foge, evola-se pelo ar.
Para mim só no ritmo o sintoma.
Resta intacto, eficaz pra devanear
Um poeta que, lento, a luz retoma.

Na imaginação, o eco do amor brama
E impulsiona do mundo a voz do drama
Pela rua sombria da memória.

Entrega à terra o mais apaixonado
E findável presente, emocionante!

Sua vida. Ilusória? Provisória?


Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

Teoria Quindeto

http://comocriarpoemas.blogspot.com.br/2015/01/quindeto.html

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O sol entardece em mim


Foto: Celso Ferruda

Meu olhar desliza
Para o poente enrubescido.
O pôr do sol envolve
O dia num abraço.
Sufoca o mundo de nostalgia.
Esquivo-me entre bordados coloridos
Para alojar-me
Na tua eternidade,
Horizonte de juramentos efêmeros,
De amor de ilusões,
De felicidade sem alegria,
De sensação diluída.
O cristal infinito trinca,
A bolha protetora vacila...
Meu olhar, então,vagueia
Para teus olhos,
Pousados aquém de mim,
Sem cor, vazios.
Rejeitada, retorno ao escuro
Dos meus olhos.
Retomo o nada
Que me cerca
E apenas sonho-te.

Mardilê Friedrich Fabre

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Fatalidades?


Nuvens amarradas no azul,
Unidas com laço cinza,
Imobilizam-se sobre medos
De olhos incrédulos,
Abrem as comportas
E jorram as águas de julho.

As plantas gemem
Açoitadas pelo vento
Que as derruba
E vergam-se sobre o leito marrom.

Flores despetalam-se
E pingam sua dor na lama.

Borboletas desasam-se
E tombam no esquife de pétalas.

O rio extravasa sua mágoa
Pelos maus-tratos sofridos
E ultrapassa limites
Impostos por mãos incautas
Num desafio sem piedade.

Não ouve ele os gemidos
Do cortejo molhado
Que procurou vida
Na vida oferecida
Por sua superfície calma.

Não se lembraram
Os pobres pés descalços
Que ele era o dono absoluto
Daquelas margens.
Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google