Resolvi revirar minha gaveta de guardados,
A gaveta das recordações.
Reflete de imediato uma imagem .
No cantinho, dobradinha ,
Uma folha de papel amarelada...
Abro-a com cuidado .
A primeira carta de amor que recebi.
Quatorze? Quinze?
Diz das noites insones
Do brilho dos meus olhos negros
(são negros os meus olhos ?),
Dos meus lábios “carnudos ”
(ainda enrubesço ao ler essa palavra ),
Do meu andar “gingado ”,
Do meu perfume adocicado
(que perfume eu usava?),
Da vida que eu exalava,
Da mudez que o assolava,
Do calafrio que percorria seu corpo ,
(aprendemos a dançar um com o outro )...
Leio-a e releio-a.
As letras bailam embaçadas,
Desisto de continuar .
Guardo a carta no mesmo lugar ,
Do mesmo jeito .
No azul brilhante,
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google
5 comentários:
Mardi,
Muita nostalgia mesmo.
As lembrancas vieram como se fosse um filme e me lembrei de quem escreveu a carta e que perfume vc usava (cheguei a visualizar o frasco). Foi uma viagem no tempo.
Bjs, sua irmazinha
Coisas antigas. Bilhetes, cartas, retratos, recordações.
São elas que nos fazem gente!
Abraço,
Jorge
Um trabalho magnífico! Adorei... Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...
Oi, Mardilê, ao ler esse teu poema bem intimista, retornei à minha juventude. Tive uma namorada, eu com 17, ela com 15, em que o nosso namoro consistia basicamente em cartas, já que ela morava em P.Alegre, e eu em São Léo, e não havia $$$ para vê-la assiduamente. Lembro-me de falar dos olhos delas(negros também, pareciam duas jabuticabas maduras).
Ah!, bons tempos! Obrigado por me fazer retornar a eles.
Claiton
Oi, mardilê querida. Espero que vc esteja conseguindo enfrentar corajosamente os dias frios. Particularmente, eu não gosto do inverno assim rigoroso, ainda que, por sorte, não úmido.
Fiquei bem contente em vê-la dedicada à sua coluna semanal. Desta vez, sua poesia intimista (terá sido obra dos dias de frio que nos convidam a ficar em casa, quietinhos?) se fez parceira de mts que a leram, porque mts são, certamente, os que se reconhecem nela. Estes são os afortunados.
Lindíssima poesia! Mesmo falando de boas lembranças, é fácil a quem escreve escorregar na melancolia, mas a sua “carta de amor” é pura beleza.
Um bom final de férias para vc. Bjinhossssss. Irany
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