Havia um balanço enorme no jardim
da casa da minha
tia , no qual
a criançada podia brincar ,
embalando-se todos juntos .
Ficava preso em
dois enormes plátanos . Eu
sentia náuseas com
o vaivém do balanço ,
por isso ,
enquanto ouvia a gritaria
dos meus primos
(o balanço atingia as “nuvens ”), eu
ficava sentada na soleira da porta ,
examinando os plátanos (as árvores sempre
exerceram sobre mim certo fascínio ).
Eu entrava no meu clima de sonho , e os plátanos
se transformavam em seres
animados com
vários braços
que me
pegavam, me aconchegavam e me tiravam dali, transportando-me para
lugares desconhecidos ,
deslumbrantes , embora
misteriosos, com castelos ,
com uma alameda
de plátanos na entrada
(por onde
passavam príncipe s
e princesas), rodeados de parques e jardins
coloridos com muitas aves , gorjeando alegremente ,
pousando ora aqui ,
ora ali ,
com uma grama
verdinha, verdinha...
Até que... um puxão
na minha trança me avisava que a brincadeira no balanço acabara. Mas eu ficava
ainda algum tempo sentada, olhando aquelas enormes árvores e vivendo no mundo
da minha imaginação.
Ainda hoje os plátanos
me atraem, principalmente
no outono , quando
suas folhas
tornam-se dourado-laranja, virando, ao caírem, um
fofo tapete , que cativa os olhares dos transeuntes
e abafa trôpegos passos .
Texto e foto: Mardilê Friedrich Fabre