Cavalga desde os seus oito anos de idade. Os dias em que vai ao
haras são verdadeiramente adoráveis. Amélia é uma jovem simpática e
comunicativa. Sua afinidade com os cavalos começou no momento em que viu
Plácido. Todos no haras a conhecem e gostam dela.
Amélia mudou muito depois que começara a fazer equitação. Seus
pais a colocaram nas aulas aconselhados pela psicóloga, devido à sua
dificuldade de comunicação e relacionamento com outras crianças e medo dos
animais domésticos.
“É arisca esta menina”, comentava a avó, cada vez que ia visitar a
filha.
A princípio relutaram em aceitar a equoterapia." Coisa de
psicólogo, inventam cada uma...”. Amélia, no entanto, retraía-se cada dia um
pouco mais. Era necessário tomar uma providência. Resolveram seguir o conselho
da psicóloga e levaram a menina a um haras não muito distante da casa deles
para uma visita. Apenas para ver como Amélia se comportaria.
Surpreenderam-se. Os olhos azuis da menina brilharam ao ver as
crianças alegres, tranquilas montadas nos cavalos. Foi o que bastou para ela
querer ver de perto os animais.
Houve empatia imediata entre a menina loira de cabelo penteado em
cachos com um laço de fita azul e um sorriso tímido e o potro negro que ainda
estava do lado da mãe. “Posso passar a mão nele?” perguntou Amélia.
O responsável pelo animal disse-lhe que não, pois somente no dia
seguinte afastá-lo-iam da mãe a fim de começar a sua preparação para ser
montado por crianças. Amélia ficou um pouco triste. O rapaz prometeu, então,
para ela que, quando o potro estivesse pronto dentro de uns três meses, ele
telefonaria para a casa dela avisando. Ele tem nome?, quis saber ela.
- Não.
- Posso batizá-lo de Plácido?
- Taí, um bom nome. Não sabíamos que nome dar-lhe, pois agora está
decidido: será Plácido.
- Posso vir ao haras vê-lo até ele ficar pronto para ser montado?
- Claro. E antes de montá-lo vais começar a ajudar a tratar dele,
a acarinhá-lo, passar a mãozinha em seu pelo. Assim ele vai te conhecendo. Se
bem que pelo jeito como ele te olha, há uma amizade fluindo por aí.
Os pais nunca a viram tão risonha como quando estava com o seu
querido Plácido. Não tinham ideia de como ela escolheu esse nome. “Será que ela
sabia o que significa plácido? porque o cavalo tinha cara de Plácido...”
Desde a primeira vez que montou, Amélia nunca mais parou de
cavalgar.
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google
2 comentários:
A Mardilê escritora, a quem agradeço uma vez mais a apresentação, em forma de crônica, que fez do meu livro Casarão, no Recanto das Letras.
Grande abraço.
Mardilê, querida.
Eu penso, que quando vc nasceu um anjo soprou ao seu ouvido: - Mardilê, segue observando td à sua volta; o belo, o agradável aos sentidos, o perfume que embriaga, a perfeição de traços, enfim, o que encanta a todos. Todavia, não se esqueça de enxergar nos seus contrários a essência daquilo que, como é comum, passa despercebida. Habitue-se a procurar a razão de ser das criaturas, mesmo as de aparência estranhamente diversa, e certamente vc descobrirá a utilidade de uma planta estranha, o olhar que fala de um animalzinho esquisito, o medo que acompanha uma pessoa sem a sua (tão importante) autoconfiança.
Assim foi que, imagino, vc se acostumou a ver com naturalidade além do verniz que cobre as aparências óbvias, a perceber as nuances dos movimentos e dos aromas, a desvendar as emoções contidas em uma aparente mudez de uma Amélia.
Eu não sei bem ao certo se é isto (ou isso?) que este seu conto encerra. Porém, sei bem que vc tem, sem fazer alarde, esta imensa sensibilidade feminina, poética, linda, que transparece em tudo que vc escreve.
Eu gostei mt do seu conto. Eu gosto mt dos temas que vc “escolhe” para tecer os seus sentimentos. Eu gosto mt de você (sem abreviação. Como deveriam ser todos que eu escrevi, eu sei).
Um abraço apertado.
irany
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