sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Homem do Sax



Há uma grande confusão no bar.

Homens e mulheres falam alto, bebem e fumam muito, e a fumaça forma uma nuvem cinza e densa sobre suas cabeças. O garçom corre de um lado para outro, atendendo aos pedidos dos fregueses. Tilintar de copos, vozes que gritam por ele, gargalhadas.

Todos os olhares, de repente, convergem para o homem fraco e pálido que chega ao cenário. Ele carrega uma caixa e coloca-a no chão. Abre-a e tira um sax.

As pessoas calam-se pouco a pouco. Agora, escuta-se apenas o som das respirações, como o prenúncio de um grande acontecimento.

O homem começa a tocar. A música soa alegria límpida. As notas transpõem os vazios e atingem as pessoas, transportando-as para mundos imaginários de sensibilidade e paz. A perfeita interpretação faz dos momentos sinfonia.

A última nota do sax cai no silêncio, como o último suspiro da alma do artista, como o último alento de um ser sobre a terra.

Devagarzinho, as pessoas despertam da hipnose e recomeçam a viver sua medíocre realidade.




Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

2 comentários:

Jorge Sader Filho disse...

Ninguém se dá conta, em todo tempo, que ele está sendo desperdiçado. E quando abrem os olhos, o tempo passou, a vida acabou.
E o saxofone continua tocando...

Carinho,
Jorge

Gislene disse...

Eu adorei, por vezes fico olhando sem olhar, aquele que passa através das pessoas...pelo menos cem vezes já te peguei divagando assim, eu sei que captas as almas acordadas e mortas....bjão,amei