Todas as
manhãs, vejo-o do meu quarto
do hotel .
À noite , encontro-o por
casualidade numa feira de artesanato . Paro ante
sua banca .
Sorrio. Ele me
retribui o sorriso . Não
tem a menor ideia de quem eu seja ou por que sorrio. Atrás
dele, quadros de casarios
antigos com
traços modernos :
uma mistura de tempos .
Não são
meras reproduções . Há algo mais
neles: um traço
forte , corajoso ,
cores vivas .
Um me
atrai particularmente . Representa o cenário que descortino do meu
hotel . Compro-o. Sorrindo, afasto-me. Olho para trás e ainda
vejo seu semblante .
Diferente sem
chapéu .
De manhã , lá está ele , e eu
arrumando as malas . Vou sentir
saudades , mas
levarei comigo a terna
visão do pano
de fundo que
escolhi para beber do meu silêncio .
Mardilê Friedrich Fabre
3 comentários:
Excelente texto. Parabéns.
Ternura de início ao fim.
Gostei de "beber do meu silêncio".
A poeta é excelente cronista! Já pintei muito, Mardilê. Ainda gosto, mas de ver...
Abraço.
Jorge
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