Nuvens amarradas no
azul,
Unidas com laço cinza,
Imobilizam-se sobre
medos
De olhos incrédulos,
Abrem as comportas
E jorram as águas de
julho.
As plantas gemem
Açoitadas pelo vento
Que as derruba
E vergam-se sobre o
leito marrom.
Flores despetalam-se
E pingam sua dor na lama.
Borboletas desasam-se
E tombam no esquife de
pétalas.
O rio extravasa sua
mágoa
Pelos maus-tratos
sofridos
E ultrapassa limites
Impostos por mãos
incautas
Num desafio sem piedade.
Não ouve ele os gemidos
Do cortejo molhado
Que procurou vida
Na vida oferecida
Por sua superfície calma.
Não se lembraram
Os pobres pés descalços
Que ele era o dono
absoluto
Daquelas margens.
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google
2 comentários:
Mudou um pouco o estilo, Mardilê. Bom de cantar baixinho.
Abraço.
Mardilê, querida, este seu poema lembra a leitura que se pode fazer de Guarnica. Ele mostra com veemência o que resultou de devastador na paisagem de um rio que outrora era alimento dos muitos anseios de quem lhe procurava. Mais claramente e triste, ainda, é o retrato que ele faz da sociedade vigente, uma sociedade em vias de perder a consciência de sua responsabilidade no pensar o futuro, o que equivale dizer, a sua dignidade.
Até segunda próxima. Um grande abraço.
Irany
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