sexta-feira, 27 de abril de 2012

Interiorizo-me













Luzes
 

Luzes resplandecem em meu interior,
Labirinto intrincado percorrem,
Lançam-se indomáveis pelo olhar.
Livres, iluminam os solitários.
Lacunas turvas preenchem ousadas,
Legitimando sua atrevida vocação:
Liquidar com as trevas e o desamparo


A canção que não cantarei

Meu coração cadencia em dós
O ritmo da madrugada suspensa,
Entrega-se à cantiga da vida.

Introjeto-a enleada em nós.
Rolando incauta pela descrença,
Ela jaz em mim entorpecida.

Acordes se extinguem na garganta.

Meu olhar suplicante em vão canta.





















No meu cantinho

Lá,
No fim
Mais secreto
Do meu cantinho,
Moram uma fada
E meu anjo sem asas.
Os clarões na minha mente
São do condão os toques mágicos.
E os meus  olhos tristes ante o mal
Dizem do choro do anjo na minh´alma.


Mardilê Friedrich Fabre

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Renascer



Voltada para dentro de mim,
Sinto-me
Em dimensões invisíveis.
Minhas emoções detidas
Em teias tramadas
Por fios indestrutíveis.
Não respiro,
Sufoca-me o desamparo.
Tudo escuro.
Luto com desespero
Sem êxito.
Fogem-me as forças,
Estou combalida.
Não posso desistir.
O destino implacável
Nãotréguas,
Conduz-me impassível.
Preciso desatar os nós.
Libertar-me.
Retomar as rédeas de mim,
Traçar meus caminhos sem medos,
Dialogar comigo de novo,
Soletrar as palavras
Paralisadas nos lábios,
Pronunciar poemas possíveis,
Dividir minha poesia com o mundo.
Renascer na luz dos gestos.



Mardilê Friedrich Fabre

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Minha alma funde-se na arte











Minha alma passeia pelas teclas do piano,
Sofre entre dós e sóis em acordes febris,
Sai pela janela em ritmo chopiniano,
Rege no jardim o voo dos colibris.

Minha alma enleva-se com as cores das telas.
Pinceladas esfumadas formam caminhos
Que conduzem ao amanhecer nas aquarelas,
Enquanto a vida inda desperta em murmurinhos.

Minha alma soluça quando a poesia
Que descortina o sofrimento do poeta
Em seus intensos momentos de nostalgia,
Que deslizam com sua lágrima secreta.

Minha alma flutua perplexa entre a beleza.
É cativada pelas canções em bemol,
Também dos tons monocromáticos é presa
E vai com metáforas até o arrebol.


Imagem: Google

Mardilê Friedrich Fabre

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Aconteceu numa Páscoa



Em tempos idos, eu aceitava que o coelhinho trazia ovos, embora visse minha mãe furar, com cuidado, as cascas  para tirar gemas e claras dos ovos (de galinha, claro!) e guardá-las numa caixa de sapato. Mas... os grandes diziam e não se questionava. E essa minha mania de “andar com a cabeça nas nuvens” (palavras de minha mãe), talvez contribuísse para isso.

Era costume passar a Páscoa na casa de uma tia. Éramos seis (nada a ver com o romance de Maria José Dupré) crianças que acreditavam (nós, as mais velhas nem tanto) no “coelhinho”. Esseacreditarvinha acompanhado de um pouco de medo, porque as “coelhas”, espertas, exigiam (chantagem?) “comportamento exemplar”( o que nos perturbava o dia inteiro, pois isso era impossível para seis crianças, seis mentes criativas... juntas...) em troca de ninhos recheados de “ovinhos” e chocolates.

Como a casa ficasse fora da cidade, convivíamos com animais em meio à natureza, com um espaço imenso para explorar, o que nos deixava cansados e dormíamos como anjos.

Certa
feita, na noite de sábado de aleluia, antes de dormir, depois de enfeitarmos os ninhos para o “coelhinho colocar os ovinhos”, embora exaustos, ficamos os seis num quarto para planejarmos o Domingo de Páscoa (viriam mais tios e primos). Entretanto, uma pergunta soou alto: “será verdade esta história de coelho de páscoa? Porque bem, coelho não bota ovo...”  Estávamos nessa importante reflexão, quando um gato branco pulou a janela (naquela época, as venezianas das janelas eram apenas encostadas) no meio de nós. Foi uma gritaria... uma correria! Olhos esbugalhados, corações disparados, pulsando forte. Alvoroçamos a casa.

Naquela noite, o trabalho das “coelhas” de distribuir nos ninhos enfileirados junto à parede, os ovinhos pintados à mão e recheados de amendoim doce (nunca mais comi igual) e chocolates se atrasou. Os pais... esses tiveram um “servicinho extra”: acalmar e driblar a gurizada, principalmente os três menores. Tarefa nada fácil, porque o susto (para quem duvidava da existência do “coelhinho da páscoa”...) fora enorme.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem  1: Google