Todos os dias pego o ônibus no mesmo horário
para ir ao trabalho. Faz um ano mais ou menos que o motorista é o Paulo. Sei
seu nome, porque minha parada é a primeira do percurso, e o ônibus vem vazio e
sento no primeiro banco. Algumas pessoas conhecidas de Paulo também tomam este
ônibus e chamam-no, ao cumprimentá-lo.
Nunca vi um motorista tão gentil,
principalmente com velhos e crianças, sorriso nos lábios, calmo, espera que
subam e desçam seus passageiros. Conhece-os. Nunca deixa um cumprimento sem
resposta. De alguns, como eu, até sabe a profissão. Seguido me deseja: “Bom dia
de trabalho, professora.”
Já o ouvi várias vezes conversar com alguns
conhecidos e notei que ele revela um pensamento crítico sobre acontecimentos
políticos e econômicos que demonstram uma pessoa que lê análise sobre esses
assuntos.
Há um menininho que a mãe leva para a APAE,
que pega este mesmo ônibus. Ele não senta, fica paradinho ao lado do motorista,
segurando-se numa barra que há ali. Um dia, ele olhou bem para Paulo e
perguntou:
- Pa onde fuziu teu cabelo?
O pessoal riu da pergunta, e eu pensei:
“Como se sairá Paulo?”
E o motorista respondeu com toda a
serenidade:
- Sabe, José, os fios se escondem no ralo do
banheiro.
- É!?
- Cada vez que eu tomo banho e lavo a cabeça,
muitos deles fogem para lá.
-Pu quê?
- Porque eles acham mais seguro ficar no ralo
do banheiro do que na minha cabeça.
-
Hãããã! Então não desa mais eles fugi, faz cainho neles, assim ó.
E passava a mãozinha na cabeça, mostrando
como Paulo precisava agir para os cabelos não fugirem.
Paulo sorriu:
- Vou seguir o teu conselho. Olha, é a tua
parada. Tchau!
- Tchau.
Sempre tem uma palavra amiga. Não deixa
ninguém sem resposta. Ele é diferente dos outros motoristas. Com ele, a viagem,
além de segura, não é monótona.
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google