quarta-feira, 17 de maio de 2017

Conforto



Há dias em que a vida
Dói mais que em outros.
A dama sem rosto me espreita
Atrás da esquina da fraqueza.
Espera o momento para abraçar-me.
O coração se confrange,
E se retorce,
E grita,
E me suplica cautela.
Reúno forças (nem sei de onde)
Que me sustentam.
A mente atilada
Intervém no espírito dormente.
Os olhos se abrem devagar...
O olhar envia súplicas...
Sinto, então, o calor da mão
Que segura firme a minha
E me conforta.
Experimento o toque protetor
Que me promete
Um tempo sem martírios,
Uma caminhada sem percalços,
Momentos de inigualável tranquilidade.
Afinal, tomo o caminho das estrelas
E, conduzida por vultos caridosos,
Modelo-me nos braços
Da mansidão azul.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Freepik

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Desmaterializado



O dia entristece.
O sol se esconde atrás da névoa.
Meu coração mortifica-se.
Minha cabeça turbulenta
Perturba-se com tua imagem
Emergida do misterioso mundo da vaguidão.
Minha pele sente teus dedos macios,
Teus olhos falam
Para minha alma desprovida de acalentos.
Bebo as doces palavras
Que não dizes
E que escorrem pelas minhas faces,
E alojam-se na alma abandonada.
Imagino que me abraças ...
Levanto as mãos para tocar-te...
Não te materializas,
És apenas uma alucinação.
Estavas distante...
Eu nem me recordava mais,
Eras somente uma lembrança
Diluída no tempo como tantas outras.
Surgiste da vastidão impenetrável.
Agora sofro tua ausência
Que me importuna,
E me atormenta,
E me maltrata,
E me lancina.
Meu ser encontra-se tão embebido de ti
Que, temo, um dia explodirá.
Quando aceitarei
Que nunca poderás ser meu?
Preciso conformar-me
Em amar-te sem que tu o saibas,
Mas a esperança de ouvir tua voz
Fazer-me uma declaração de amor,
Essa não morre.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Flor do Cerrado


Em resposta a esse poema, meu amigo e confrade, Celso Ferruda, fez o seguinte poema:


Desmardilerizando...
Das tristezas descritas, um brilho no olhar. 
Sol contido entre vagas nuvens, reaparece. 
O coração certifica-se: é tempo de sorrir... 
Cabeça turbulenta passa a sonhar tua imagem. 
Pele suavizada, sensibilidade e ligação no olhar. 
Os olhos que lamentavam bebem palavras, 
As tuas palavras, em silêncio! 
Ações que parecem diluir-se na vastidão do tempo
E voltam saborosas em forma de lembranças. 
Agora sem sofrer a ausência que importunava, 
Que atormentava, 
Que maltratava, 
Que dava dores agudas... 
Não temo mais a explosão dum sentimento fatídico,
Guardando segredos de amor, somente para mim. 
Posso hoje ouvir a consciente voz, 
Desmardilerizando o passado: 
"Este amor não morre, jamais morreu... vive na poesia."


Celso Ferruda
Imagem: Mulheres Bonitas

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Louco segredo



Sou guardiã de um louco segredo.
Por ser meu, fenecerá em meu coração
Como a rosa que perde seu perfume,
Sua cor e tomba exangue.
Um belo sonho que nunca se realizou
Simplesmente  porque somos dois os protagonistas.
E tu nunca soubeste dele.
Ah! mas sentiste...
Li nas entrelinhas dos teus aflitos silêncios
O desejo dos carinhos ausentes.
Embora nunca nos tocássemos,
Tua voz sabia a beijos rubros
Que me acarinhavam a face.
Tu me encontraste em farrapos,
Acreditei que ficarias para sempre.
De novo, o para sempre
Dissolveu-se na minha ingenuidade.
Prometo-me que não haverá outra oportunidade
Para ninguém.
Ficarei em minha companhia,
No silêncio de mim mesma,
Absurdamente paralisada pelo tempo
Que me mantém presa a um segredo
Que necessito esquecer.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: A mente é maravilhosa