Quando descobri meus sonhos,
Enlacei-os forte,
Afinal, eles faziam-se acompanhar da poesia.
Acariciei-os lentamente,
Porque os desejara tanto!
Cantei-lhes acalantos,
Assolava-me um medo infantil
De que se assustassem e fugissem...
Embalei-os com as notas suaves das sonatas de Chopin,
Alimentei-os com imagens e cores.
Queria-os vibrantes, perfeitos
Como os amores que nascem na primavera
E vivem na eternidade das certezas.
Meus sonhos...
Às vezes, perdia algum pelo caminho.
Sem medir esforços, porém,
Voltava para pegá-lo
E colocava-o no meu colo,
Sussurrando-lhe palavras meigas e delicadas,
Que tinham um misto de apreensão e alegria.
Eu não permitia que desaparecesse,
E ele continuava comigo.
Aconchegado em meu peito.
De vez quando, olhava-me de viés,
Como a suplicar que não o abandonasse à sua sorte.
E eu, num tremendo esforço,
Tentava lembrar-me
Por que me escapara logo este sonho...
Qual fora o meu descuido?
E o meu pensamento se voltava para os outros
Que ainda estavam comigo.
Precisava assisti-los,
Para que não se perdessem
E se esquecessem de acontecer.
Mas...
Por mais que eu me desvelasse,
Por mais que os alcançasse em seu refúgio,
Por mais que os tratasse com esperança,
Um dia...
Um deles escorreu-me pelas mãos
E espatifou-se nos ladrilhos do tempo,
E a saudade, ligeira, dele apoderou-se
E levou-o com ela.
Foi um milésimo de minuto...
E eu? Ali, parada, aturdida...
Agora havia uma ausência
E seria impossível preenchê-la.
Mardilê Friedrich Fabre
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