sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pés nas Nuvens




Havia um balanço enorme no jardim da casa da minha tia, no qual a criançada podia brincar, embalando-se todos juntos. Ficava preso em dois enormes plátanos. Eu sentia náuseas com o vaivém do balanço, por isso, enquanto ouvia a gritaria dos meus primos (o balanço atingia as “nuvens”), eu ficava sentada na soleira da porta, examinando os plátanos (as árvores sempre exerceram sobre mim  certo fascínio).
Eu entrava no meu clima de sonho, e os plátanos se transformavam em seres animados com vários braços que me pegavam, me aconchegavam e me tiravam dali, transportando-me para lugares desconhecidos, deslumbrantes, embora misteriosos, com castelos, com uma alameda de plátanos na entrada (por onde passavam príncipes e princesas), rodeados de parques e jardins  coloridos com muitas aves, gorjeando alegremente, pousando ora aqui, ora ali, com uma grama verdinha, verdinha...
Até que... um puxão na minha trança me avisava que a brincadeira no balanço acabara. Mas eu ficava ainda algum tempo sentada, olhando aquelas enormes árvores e vivendo no mundo da minha imaginação.
Ainda hoje os plátanos me atraem, principalmente no outono, quando suas folhas tornam-se dourado-laranja, virando, ao caírem, um fofo tapete, que cativa os  olhares dos transeuntes e abafa trôpegos passos.


Texto e foto: Mardilê Friedrich Fabre



sábado, 23 de novembro de 2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Aldravia





1.
cabelos
brancos
mascaram
uma
alma
infantil

2.
flores
morrem
lentamente
os
colibris?
distantes
Foto Marilene D`Àvila

3.
lua
vigia
poeta
eletrizado
de
amor
  

Para saber como se escreve uma aldravia, consulte:
http://comocriarpoemas.blogspot.com.br/2014/08/aldravia_14.html




Mardilê Friedrich Fabre
Imagens: Google

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Cigana





À luz da lua, dança.
Cabelos presos em trança,
Pés descalços, rodopia.

Sua vida é poesia
Nas cordas do violino.
A noite revela a magia
Do semblante que não se cansa.
E o seu bailado delicia.
um quê de mistério fino
Na noite que a teia relança
Para a cigana seu destino.
Sua saia rodada ondula.
Não conhece sua pujança
A jovem que se julga nula.


Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Na madrugada...


Na madrugada...  


A lua à deriva, condizente,

Perambula na madrugada...

Ouve o segredo da rosa descrente.

Sabe o descaminho da alma indolente.

Compreende a poesia declamada

Com voz embargada, num repente.

Sorri das fantasias do crente...

Volta o sol. Ela refugia-se no nada.

Reajo
Pertenço a este cosmo ilimitado,
Fragmento solto na imensidade,
Com o qual o tempo se diverte.
Embora, às vezes, desconcertado
Tomo do sol a centralidade
E alonjo-me deste estado inerte.
Fujo da armadilha da aflição,
Rumo p´ra onde os amores estão.
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O passado não se foi


O passado teima em se entremear com o presente.
Uma alameda por onde passo
É o caminho percorrido em sonhos fragmentados.
A casa antiga que surge à minha frente
É aquela que abriga atrás das janelas cerradas
A ventura de mãos protetoras e envolventes.
O lago que reflete nuvens errantes
É o espelho que revela a alma azul do céu.
Um sorriso no olhar transeunte
É felicidade que ocupa o lugar da dor.
Se o céu chora o desgosto de tanta desgraça,
Sou a menininha de pés descalços
Que se purifica nas gotas vítreas.
Se as aves fogem do frio,
À procura do calor do sol,
Voo com elas para o infinito
Que me acolhe, asilando as lembranças.



Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google