sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ontem



Ontem, quando ainda estavas comigo,
E teu amor era meu abrigo,
Não havia esta lança em meu peito
Que sangra lembranças do teu jeito.

Ontem, quando a lua aparecia,
E prateava o jardim, que adormecia,
Teu olhar penetrava em meus olhos,
Brilhando. As mãos viravam antolhos.

Ontem não existia a saudade,
Regia-nos a duplicidade.
Não acreditávamos num fim.
Eu vivia p´ra ti, tu p´ra mim.

Ontem, a tua presença enchia
Meu corpo. Eras minha poesia.
O quarto exalava perfume,
E as estrelas piscavam seu lume.

Ontem, cercados pela magia,
Éramos dois em hora tardia,
Construíramos o nosso ninho...
Interromperam-nos o caminho...

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: construir.daysesene.com


sábado, 14 de novembro de 2015

Valor incalculável




Lenta, bate a chuva na vidraça,
Trazendo-me vestígios de ti,
Do teu andar gingado na praça,
Do teu olhar que p´ra mim sorri.

Envolto em véu de lágrimas,
Atravessas obstinado o espaço.
Na minha solidão intervéns,
Cadencias no mesmo compasso.

Grande é o valor da tua lembrança,
Que me impulsiona para viver.
Afastas-me da desesperança,
Induzes-me a não esmorecer.


Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: sarrabal.sapo.pt

sábado, 7 de novembro de 2015

Prelúdio



O sol desabrocha em clara manhã,
E o jardim perfuma-se de hortelã.
Meus olhos negros despertam tristonhos
Pelo cômodo dissipam-se os sonhos.

Há silêncio no horizonte laranja
Em reverência ao mundo que se arranja.
Desfaço as rugas de preocupação
Que em meu rosto desenhou a ilusão.

Os pássaros cantam em revoada,
E saúdam a vida que vem renovada.
O novo dia viçoso me abraça,
Faz das ideias negativas fumaça.

Na mata há rebuliço de animais
Livres da noite e seus riscos mortais.
Em mim soam palavras de carinho
Que me animam a seguir meu caminho.

Mardilê Friedrich Fabre

Foto: Celso Ferruda