sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Banho Místico



E o sonho cobriu
O leito do rio de rosas
De todas as cores.
O perfume jorrou
Em cascatas de magia.
O vento propagou-o
Até o mar,
Onde te banhavas,
Vaporosa sereia,
Vívida poesia,
Que atiça paixões irreversíveis.
Solfeja tua canção,
Paralisa corações sôfregos,
Safa-te para teu esconderijo
Do nada onde mistérios
Guardam-te distante
Dos olhares de cobiça.
Banha-te nas pétalas místicas
Que te conduzem
Para a essência do existencial.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Eu em ti



Vivo
No teu corpo cósmico
E pairo no infinito interestelar

Vejo
Com teus olhos de luzes
E ilumino cantos escuros das indiferenças

Sorrio
Com teus lábios de morango
E adoço o amargo gosto da desesperança

Beijo
Com tua boca de mel
E cicatrizo feridas de fogo

Canto
Com tua voz de entardecer
E rezo vontades coloridas

Falo
Com tuas palavras quiméricas
E invento moinhos poéticos

Caminho
Com teus passos macios
E espalho flores de ternura

Afago
Com tuas mãos de veludo
E transformo faces em pétalas

Sinto
Com tua alma de plumas
E curo do mundo oxidado o amor

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Uma vida melhor



O que leva Artur a continuar nesta árdua missão de ensinar? Há dias em que tem vontade de largar tudo e flanar na vida como os pássaros. Então dá de cara com a sua triste realidade: sua mãe para sustentar.

No início de sua carreira, ia para a escola com prazer, entretanto a rotina do dia a dia, o descaso dos alunos, as exigências de preencher fichas, cadastros, etc. mataram pouco a pouco a sua alegria de lecionar.

Estudara tanto! Ainda estuda. Agora resolve cursar mestrado. Para quê? Para continuar nesta mesmice? Anda desanimado. Nada contra os alunos, são adolescentes, o mundo extramuros escolares tem muito mais de interessante para oferecer... Por que eles se interessariam pelas leis de Newton, vetores, força e estática, etc.?
Sua mãe, conversando com ele, comentou: “Tu és que precisas mudar. Escola é isso que já sabes e experimentaste. Não gostas. Parte pra outra! Se é por causa do salário, vamos vivendo aos apertos, como tantas vezes, com a pensão que o teu pai deixou.”

Um colega seu, professor de química, fez concurso para a Petrobras, foi aprovado e deu adeus ao magistério. Por que ele não ouve a mãe, toma uma atitude e faz um concurso? É isso aí. Levanta-se resoluto, deixa as provas que corrige e vai até a tabacaria comprar o Jornal de Concursos para se inteirar de quais os que aconteceriam por agora. O único que encontra é para o Tribunal de Justiça dentro de seis meses. Espanta-se com o salário para quem possui curso superior. Ao lado da pilha de jornais, há apostilas à venda. Compra uma. Na volta para casa, passa pela Biblioteca Pública e tira livros indicados na Bibliografia do edital.

Em casa, ainda pensa muito se é isso mesmo que quer. Move-o o salário, claro, o fato de não levar trabalho para casa. Decide-se, inscreve-se no concurso pela internet. Agora não tem mais volta, é estudar, trabalhar, estudar, trabalhar. “Ah! Preciso trancar o mestrado este semestre. Depois, se for aprovado, e serei, tenho certeza, voltarei ao mestrado, e o mais importante, levarei uma vida muito melhor do que a de um professor de física.”

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Delícia// Eterna Meninice// Adolescente

Triplix dos seguintes poetas: Marilândia Rollo, Jô Tauil, Karinna*, Miguel Gonçalves e Mardilê Friedrich Fabre









Imagem 1: Google


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Gato no telhado




Madrugada alta. Gato
No telhado, gaiato,
Mia à cata de amor.

Sonha preto Cigano,
Embora leviano,
Com afagos da amada.

Por que ela custa tanto
A chegar-se ao recanto
E ceder às carícias?

“Solidão não tem fim.
Por que age ela assim
Comigo, seu amigo?”

“Deu bolo” a musa gata.
Mas por que é tão ingrata
Se só ela era o seu xodó?

Não posso o gato olhar
Sinto-o lamuriar
Seus mios solitários.

Não escuto mais miados,
Apenas os chiados
Das patas no telhado.

Abro minha janela,
Ele passa por ela
E aninha-se em meu colo.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Agonia// Na Mata// Úmida Sensação// Dum Poeta Cansado












Autores dos multiplix: Marilândia Rollo, Jô Tauil, Karinna*, Miguel Gonçalves, Gilnei Nepomuceno e Mardilê Friedrich Fabre
Imagens: Google

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Vitória do amor




Início do ano letivo. Entrei na sala de aula. Primeira série do 2º Grau. Alunos novos. Notei curiosidade nos olhos que me fitavam.
 - Bom-dia, cumprimentei-os.
 - Bom-dia, professora, responderam em uníssono.
 - Antes de começarmos, vamos nos conhecer. Meu nome é Natália e, como consta no horário que receberam, vou partilhar com vocês meus conhecimentos de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Durante a chamada, à medida que digo o nome de cada um, por favor, diga de que escola veio.

Muitos vieram de outras escolas, mas também havia os que estudaram na nossa escola (portanto, me conheciam de nome e de fama).

Observadora (faz-se necessário na minha profissão), notei que um rapazinho moreno, olhos vivazes, não parava de olhar para uma menina do outro lada da sala. Isso durou o ano inteiro. A menina não parecia interessada nele.

Antônio (esse era seu nome) fazia de tudo para ficar perto de Aline. Descobria com as amigas em que festa iam, no recreio parava de modo que ela pudesse vê-lo, nos grupos formados para trabalho, dava um jeito de participar do mesmo grupo. E ela... pouco interessada...

No ano seguinte, de novo, professora da turma de Antônio e Aline.Ela sentava-se no fundo da classe, e Antônio, no meio (não havia mais lugar no ”fundão”). Escolheram-me como conselheira da turma (uma espécie de professor responsável).

A queixa dos professores era geral: Antônio não prestava atenção, ficava de costas para o quadro–verde. Só tinha olhos para Aline. E ela... nem aí... Pediram-me para eu tomar uma atitude, porque as notas dele estavam baixas.

Antes de dar a minha aula seguinte, fiz uma preleção, dizendo que, para melhor aproveitamento deles, eu faria umas modificações de lugares. Coloquei Antônio e Aline na primeira fileira, no meio de “essa, não!” “por que, profe?” “logo eu!”, fui determinando os demais lugares. Se Antônio melhorou? Sim. E Aline? (Não havia como) Também. Aafastei-a das conversas com as amigas.

No início do segundo semestre, qual não foi minha surpresa: os dois entraram na sala de mãos dadas.

Sorridente, ele me disse:
 - O meu amor por ela é tanto que ela não resistiu e finalmente enamorou-se de mim.


Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google