sexta-feira, 29 de maio de 2015

Curioso espetáculo


Vêm de muito distante
Acordes dos rumores
Que jaziam no silêncio de mim.
A noite carrega formas difusas
No dorso das sombras.
Fundem-se mistério e inexplicável
E atravessam montes agressivos,
Mares ébrios,
Vulcões impetuosos,
Rochas mordentes,
Prados inertes,
Florestas dissimuladas,
Cavernas famintas,
Cascatas insensíveis.
Perturbam o próprio vento
Que serpenteia no nevoeiro
Em movimentos contínuos,
Sem direção, em círculos.
Atingem o espaço vazio
Entre a terra sem força
E o céu revoltado.
A tudo isso assistem
A lua atônita,
Que se equilibra para não cair,
E as estrelas exânimes,
Cujo brilho foi diluído
Por movimentos de um universo
Vertiginosamente desordenado.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Flores do campo


Moça no Jardim de Giverny - Monet

O orvalho ainda caía...
Impelida pela inquietude
Que me oprimia,
Saí sem destino.

A relva molhada
Umedecia-me os pés,
Esfriava-me o corpo,
Só não me esvaecia a dor.

Recolhida em mim,
Esbarrei na beleza.
O colorido das flores do campo
Ao sol nascente, lembrou-me Monet.

Singelas, trêmulas, as flores
Equilibravam gotículas brilhantes
E espargiam leve aroma
Que a brisa se encarregava
De levar em seu seio.

Embriagava-me de delicadeza,
Refrescava-me com a doçura.
Olhos cerrados, vislumbrei seu bailado,
Abandonei-me aos seus afagos,
Permiti que suas pétalas
Cobrissem meu corpo inerte.


Mardilê Friedrich Fabre


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Antes...


Foto: Nilza Azzi

Antes do crepúsculo,
A tarde brincava
Com o sol.

Antes  da aurora,
A lua prateava
Os caminhos para os namorados.

Antes da chuva,
As flores desfaleciam
Com as carícias da brisa.

Antes do arco-íris,
As cores circulavam
Chispas luminosas.

Antes da primavera,
O inverno mascarava
A natureza de ilusões.

Antes do paraíso,
Os raios de sol beijavam
Quimeras violáceas.

Antes da lembrança
Os momentos balançavam
Emoções no olhar.

Antes do amor,
O sonho desenhava
Ternuras inolvidáveis.

Antes do perdão,
A dor vestia
O coração de amarguras.

Antes da morte,
A vida bailava
Com o tempo
No cosmo dourado.

Mardilê Friedrich Fabre

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Ruptura





Cansei de tantas juras,
São palavras impuras
Atiradas ao vento.

Calo-me diante delas.
Sem emoção, tu apelas...
Entender-te? Até tento.

Por que afastas o olhar?
Fica o meu adeus no ar.
Ferida, eu só lamento.

Chorar? Não. É demais!
Livrar-me dos casuais
Encontros... Que momento!

Rega-me o alvorecer
Da vida sem temer
Dia que passe lento.

Não esperavas, sei.
Sigo hoje minha lei:
Largar caso cinzento.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google