sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sobre livros

Sempre consulto a lista dos livros mais lidos. É uma mania. E vem a tentação de ler alguns deles.  Li este verão três, dos quais fiz comentários. Deixo claro que não é nenhuma análise literária. Sáo apenas sensações provindas da leitura de cada um.






Comer, rezar, amar , de Elizabeth Gilbert

Por que Comer, rezar, amar, de Elizabeth Gilbert, é best seller, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos? Essa pergunta martela na minha cabeça depois de ver o filme e ler o livro. Aliás, vi o filme antes de ler o livro, o que geralmente não faço, se vejo o filme antes, não leio o livro. Mas, movida pela curiosidade, como não gostei muito do filme, fui conferir o livro, que, segundo a autora, foi dividido em 108 capítulos, porque Nos círculos mais esotéricos de filósofos orientais, o número 108 é considerado muito auspicioso (me lembrei de um jargão de novela... qual?...), um perfeito múltiplo de três[...]. Até aí tudo bem. Aprendi alguma coisa, que, provavelmente alguém entendido em numerologia me teria informado.

Nada na narrativa da autora me prendeu. Uma narrativa comum, inexpressiva, lenta, não fluía, quando eu interrompia a leitura, não tinha ímpeto de continuá-la, como é meu costume, quando o autor me cativa. Talvez seja isto, a narrativa de Elizabeth Gilbert não me cativou. Sua história, sim. Uma mulher que teve a ousadia de romper com os grilhões que a aprisionavam, que não lhe permitiam viver, e sair em busca da liberdade! Faço-lhe reverência. Curvo-me à sua coragem. Palmas para ela. Quantas pessoas fazem isso?

Também reconheço que ela escreveu sua experiência com ingredientes saborosos, que atraem: prazer (comer), espiritualidade (rezar) e uma história de amor (amar) e ainda por cima desenrolados em ambientes que atiçam o imaginário de qualquer um: Itália, Índia e Indonésia.

Entretanto não me deslumbrei com descrições de lugares paradisíacos (se é que houve), deve haver muitos nestes países, também no filme não me deparei com fotos de tirar o fôlego.

Realmente, eu não sei o que tem este livro para ter sido considerado um dos melhores livros de 2006 pelo New York Times. Respeito a opinião dos que de mim discordam, mas Comer, rezar, amar não me fascinou, o que sinto em relação a ele é isto: se li, tudo bem, mas, se não lesse, nada teria perdido.








A Cabana, de William P. Young

Teço aqui apenas comentários, sem pretensão de esgotar o assunto, sobre A Cabana, de William P. Young, porque me impressionou sua criatividade. Filho de missionários e formado em religião, o autor movimenta-se muito à vontade na trama, concebendo personagens completamente diferentes do que se aprende em qualquer religião.

A história de Mackenzie Allen Philips é narrada com graça, leveza, fluência, vocabulário e imagens apropriadas, riqueza de metáforas, frases bem-encadeadas e grande sensibilidade. Ela me faz refletir sobre questões absorvidas pelo meu imaginário e acredito que de quase todas as pessoas, cuja discussão está restrita a teólogos e estudiosos das religiões (pelo menos é o que o penso).

Com 13 anos, depois de ser brutalmente castigado pelo pai (bêbado) durante quase dois dias, com uma cinta e versículos da bíblia, Mack sai de casa e nuca mais volta.

Já adulto e casado, um fim de semana leva seus filhos para um acampamento, e sua filha mais moça, Missy, é sequestrada e assassinada em uma cabana.
Uma tristeza infinita toma conta do coração do protagonista, além do complexo de culpa por não ter cuidado o suficiente de sua menina.
Passados quatro anos, ele recebe um bilhete supostamente escrito por Deus, marcando um encontro com ele na cabana, cenário do bárbaro crime que o abalou tão profundamente.

Mesmo desconfiado, ele vai. Primeiro encontra a cabana como a viu no dia em que teve certeza da morte da filha. Quando ia embora, a paisagem transforma-se magicamente num lugar maravilhoso. A cabana restaurada. Intrigado, ele volta. Ao abrir a porta, surpreende-se. Depara-se com uma Trindade moderna e humana, que rompe com os estereótipos religiosos. 

Deus se apresenta como uma mulher negra e gorda, que é a cozinheira da casa, cantante, dando boas risadas (lembrei-me de tia Nastácia, só que ela não era tão “enorme”). Mulher, negra e gorda, tipos marginalizados pela sociedade (e não aquele velho severo, de barbas brancas, ditando leis aos homens), dizendo do amor que sente pela humanidade, pedindo confiança nas horas difíceis e amor incondicional.

O Espírito Santo – Sarayu (Vento, conotaria Sopro?) aparece como uma mulher asiática, jardineira, vestindo jeans e blusa colorida, resplandecente. Não é a pomba branca com a qual nos acostumamos a conviver.

Jesus é um homem do Oriente Médio, carpinteiro, tem pouco mais de 30 anos (o único cuja idade foi mencionada, por ter sido homem), vestido como operário, de jeans e camisa xadrez, de feições agradáveis sem ser bonito, que ilumina com os olhos e o sorriso, destilando amor e bondade. Não é europeu, nem bonito, nem branco, nem tem os olhos azuis.

No livro, é flagrante o conhecimento do autor sobre a bíblia, da qual utiliza passagens conhecidas, como Jesus ter caminhado com Mack sobre as águas. Há debates sobre o perdão (“Perdão não é esquecer”), culpa, medo, instituições (igreja), religião, relacionamentos, expectativas, amor, confiança. Dele jorram emoções que se misturam com as que estão vivas no leitor, despertam as que dormem e instigam as quietas.

Depois de ler A Cabana, ficou-me a sensação de que realmente é muito difícil, senão impossível (pelo menos para mim) nos entregarmos a Deus incondicionalmente, sem julgamentos nem questionamentos como também o é vivermos o pleno exercício do “amar o próximo como eu o amei”.

Este encontro mudou Mack, mas quem não mudaria? Então eu me pergunto: como seria um encontro meu com Deus?



A Última Música, de Nicholas Sparks

Nicholas Sparks é o que eu chamo de bom “contador de histórias de amor”. Dele só li este livro. Li por curiosidade, porque é um dos mais vendidos da lista da Veja. 

Esta é a história de Verônica Miller, Ronnie, adolescente de 17 anos, revoltada com o divórcio dos pais, desobediente, abandonara os estudos de piano, que vivia em baladas, em Nova Iorque e que não falava com o pai há três anos.
Ficou muito indignada quando é obrigada por sua mãe a ir com seu irmão Jonah (10 anos) para a casa de seu pai, Steve, ex-pianista, que trocara sua carreira de professor universitário pela de pianista e fracassara, durante as férias de verão, na cidade praiana de Wrightsville.

Na cidade, ela se envolve com os “maus elementos”, mas é “salva” por Will, jovem bonito, que trabalha na oficina do pai e é voluntário no aquário, jogador de vôlei de praia (para ajudar o amigo Scott a ir para a faculdade), onde ela arruma emprego. Rapaz de boa índole.

Tendo como motivo cuidar de um ninho de tartarugas, eles passam muito tempo juntos e ambos gostam disso. E paulatinamente se apaixonam.
Claro que o amor é perturbado: com  mentiras da ex-namorada de Will, com descoberta nada agradável de o “mocinho” esconder o segredo de que foi Scott o causador do incêndio da Igreja, o que no final se descobre ter sido Marcus. E ainda por cima Will ser muito rico e sua mãe não gostar dela.
Steve conquista a filha com sua compreensão, seu amor incondicional. Quando ela fica sabendo que ele está com câncer (não pode faltar uma desgraça destas), é tomada de remorso e fica na cidade para cuidar do pai. Ela descobre que o pai estava compondo uma música, que ela termina, conseguindo vencer o ódio que tinha pelo piano, e tocá-la para ele antes de ele morrer.

Nem é preciso dizer que o final é feliz com Will e Ronnie se entendendo, ela recomeçando seus estudos de piano, e ele fazendo em Nova Iorque, claro, o curso de ciências ambientais, e não o que a mãe queria.


O autor conhece e utiliza todos os componentes para envolver o leitor na trama, principalmente como deixá-lo curioso para prosseguir a leitura. Nesta obra, o narrador é onisciente: sabe de tudo de todos.

Para os nossos dias, o antagonista Marcus é um tanto “desbotado”. Isso me chamou a atenção, um livro, que fala de jovens, sem violência e com a punição dos errados.

A Última Música é principalmente uma história de amor em todas as suas acepções: entre filhos e pais, entre irmãos, entre amigos, a Deus, à natureza e também de compreensão, paciência, resignação, dignidade, amadurecimento, perdão, recomeço e respeito.









Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Tancas






Diante da janela,
Sozinha, imóvel, serena,
Sonha com a vida...
Breve como o beija-flor
Primorosa como a flor.





Comovido adeus...
Como testemunha, a lua
também chorou triste...
No jardim, as flores viram
quanto minh´alma sofreu!




O vento assobia...
Na noite fria, saudade.
Arde em mim teu beijo.
Impossível esquecer-te,
Desejo ardente de ver-te.





Caos na natureza
A serra corta a beleza.
Extinguem-se as cores.
         Desnuda, a Terra reclama
         Treme, chora, inunda, mata.
.

Ouço o som da chuva,
Dedilhado na vidraça,
Como o do violão.
E uma tristeza fininha
se apodera de minh´alma.



Mardilê Friedirch Fabre

Imagens: Google

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Primavera





Primavera


A beleza voltou a reinar.
No jardim, há cores na vida.
O perfume se espalha no ar.
O sol seduz a flor querida.


A abelha na árvore florida
seu alimento vem buscar.
A beleza voltou a reinar.
No jardim, há cores na vida.


A borboleta quer beijar
a rosa vermelha escolhida
pelo beija-flor para amar.
É a primavera renascida.
A beleza voltou a reinar.






Paixão Sorrateira


A paixão chegou sorrateira.
Eu não entendi os sinais,
Declarara-me prisioneira.
Cega, notei tarde demais.


Meu coração não cantou mais,
E a angústia dominou-me inteira.
A paixão chegou sorrateira.
Eu não entendi os sinais.


Da morbidez fiz companheira
Nas horas movidas por ais.
Com a mania rotineira
De sonhar emoções fatais,
A paixão chegou sorrateira.



Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Fibkaiku





Não
Amor
Sem respeito.
Brado minha dor.
Com brilhos entendem-me as estrelas.
Solidárias comigo, cicatrizam-me as chagas.



Como
Notas
Unidas
Em canção,
As cores do arco-íris
Se entrelaçam no teu olhar.



Forte
Vento.
Açoita
Flores e árvores.
Raios e faíscas
Abrem chagas no céu escuro.




Logo
Tombo
No sonho.
Borboleta,
Atravesso o espaço
Entre mim e o cravo rajado.
Ao seu redor bato asas, não ouso acarinhá-lo.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google