sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sempre presente

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Sempre presente
É teu rosto frágil que vejo.
Teus olhos brilhantes de ontem,
Tuas faces sempre rosadas...
É teu rosto frágil que vejo.
Teus lábios para mim sorrindo,
Teu cabelo negro e ondulado,
Não, não é fácil esquecer-te...
Teus lábios para mim sorrindo.
Em minha mente permaneces,
Emerges de dentro de mim.
Não te perdi como pensei,
Em minha mente permaneces.
Tua imagem esfumaçada
O meu pensamento resgata
E torna-a perfeita, indelével,
Tua imagem esfumaçada.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Não existe a escuridão


Nãoem mim escuridão,
Apenas ausência de luz,
Como a noite que o tempo induz
E que se esvai com lentidão
Na manhã a que faço jus.
Não tramo planos, vivo à toa,
Fio por fio, eis o mistério
Que do meu coração ecoa:
Do mundo não faço critério.
Com a sombra, desaparece
O enfado que me leva a dor,
Toda eu a Deus em prece.
O ânimo vem confortador
E entrelaça-me com fervor.
Incorporo-me ao esplendor.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Férias, ah! passageiras férias!



Férias para mim tinham um duplo significado. Não precisava estudar para exames e “sabatinas” (é, naquele tempo os testes eram chamados de sabatinas). Ficando livre desses compromissos, sobrava-me bastante tempo para ler os meus livros, principalmente os romances (que me atraíam no armário do sótão), e deliciar-me com as tramas e as personagens, transformando-me na protagonista (lógico) de uma delas, cujo final era sempre feliz. Além disso, era época de viajar para uma cidadezinha perdida no centro do Estado, onde nascera meu pai, e onde moravam tios e primos, e onde os dias nada tinham de monótonos. 


O grande acontecimento do lugar era ir à estação de trem esperar o “noturno” (maria-fumaça) de passageiros, que, às 21h (mais ou menos), obrigatoriamente fazia uma parada a fim de se abastecer de água. Poucas pessoas subiam ou desciam, mas como o trem se demorasse, havia um pequeno comércio de alimentos na estação. Dava tempo de os passageiros comprarem doces e salgados famosos entre os que costumavam passar por , porque eram feitos no mesmo dia pelas “mestras” quituteiras do lugarejo.


Para nós, adolescentes, era o ponto de encontro para “tramarmos” o dia seguinte. Era a nossa diversão das noites de verão. Arrumávamo-nos com esmero: cabelo bem penteado (o meu penteado durava até a estação, cabelinho rebelde!), vestido de passeio, sandálias novas...

 Eu, geralmente desligava-me do que acontecia ao meu redor e punha-me a fantasiar (mente fértil!), que de algum daqueles vagões desceria um garboso jovem, que me olharia profundamente, me tomaria pela mão e me levaria para uma vida de felicidade numa casinha verde de janelas brancas e um jardim cheio de flores, colibris e borboletas (influências das minhas leituras?).


Com a partida do trem, a realidade me batia em cheio ao ouvir a voz de alguma prima:” Mardi, combinado?” (o que foi que combinamos?) Ante meu olhar aparvalhado: “Vamos amanhã no jipe do Pedro fazer um piquenique no rio” (Ufa! Agora sei o que estava combinado).” “Sim, a que horas nos encontramos?” “Pelas duas, tá?”. A essas alturas o meu príncipe se desfizera no ar como bolha de sabão.


Mardilê Friedirch Fabre

Imagem: Google

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É o meu pensamento



Não é o canto do vento
Que me faz pensativa,
Não são as nuvens de chumbo
Que me introjetam em mim,
Não é a fúria da natureza injuriada



Que me despedaça paulatinamente,
Não são as palavras orvalhadas
Que me trazem as lembranças,
Não são os versos contraditórios
Que me derretem a alma,
Não são os poemas impetuosos
Que me conduzem ao precipício,
À beira do qual nãosinais
Da poesia que transcende a labareda da essência...
É o meu pensamento esvoaçante
Que, viciado, não quer ficar no presente.
Se não o vigio, regressa ao passado,
Onde se detém até desfrutar da vida
Que não é mais minha.
Arrasto-o de .
Envolvo-o,
Adulo-o,
Embebo-o de emoção,
Mas na primeira distração,
Descubro-o bebendo do cálice do passado.
sem forças para lutar,
Aceito que ele devaneie,
Até que, pela janela, aberta,
Entra a borboleta translúcida,
A quem ele segue em rodopios
E atinge o resplendor do presente.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google