sábado, 31 de março de 2012

A Mesa Redonda


Corriam velozes os dias de infância... Pés descalços, cabelo trançado (rebelde como eu... “Sempre escabelada”, dizia minha mãe), vestido de algodão rodado, olhos curiosos, ouvidos atentos...
Coversa de gente grande... disfarçada, escutava. Foi assim que soube da mesa redonda, novidade vista num filme: uma parte fixa e uma parte central móvel.
Vieram os marceneiros. Desenhos... Palpites... Explicações... Mais desenhos... Mais explicações.... Uma tarde inteira para isso. E silêncio absoluto sobre a tal mesa redonda, que chegou a cair no esquecimento.
Até que um belo dia estava ela no centro da sala de jantar, substituindo a retangular, velha, cheia de cupim (disseram). Cheirinho bom de madeira nova!
Crianças reunidas ao redor da mesa, olhos argutos, para a demonstração do funcionamento (e precisava?): a parte móvel (mão adulta, poderosa, a fazia rodar) para os pratos com alimentos, jarra de água, o que seria comum para todos; a parte fixa (toc! toc! toc! dedos de mão adulta, sábios, soavam na madeira) para os pratos, talheres, copos, enfim o que seria individual (“Mãe, o que significa “individual”? “ Particular, de cada pessoa”, Carlos”).
Foi a rainha das férias a mesa redonda.
Não faltaram as brincadeiras. “Mãe, o Pedro rodou a mesa, fiquei com a colher do feijão na mão”. “Mãe, a mesa não para, não consigo me servir.”
E a mesa redonda, soberana... atração na cidadezinha... desculpa para visitas... assunto nas rodas de chimarrão...

Depois de muito tempo, vi-a num canto, abandonada, sem atrativo nenhum, uma mesa redonda...  como muitas...
Mas as vozes que a receberam naquela tarde de um janeiro longínquo, essas voltaram ... vivas, persistentes, imutáveis...


Mardilê Friedrich Fabre

terça-feira, 27 de março de 2012

Em Tons de Outono


Trilhas de Outono

Amareladas,
Caem as folhas das árvores.
Renovação.



Bosque Mágico

Pelo chão, reflexos,
Luzes e sombras.
Tapete bordado de outono.




Silencioso
Chega,
Desnuda o parque.
Ecos...
Lembranças de outono...



Em Contínua Mutação

Os dias
Acordam tarde,
Nevoentos...
A natureza troca
Suas vestes
Verde-alegria
Por outras alaranjado-nostálgicas.


 
Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google

sexta-feira, 23 de março de 2012

No Palco da Vida




Num dia de festa,
Abriram-se para mim
As cortinas de um mundo misterioso.
Adentrei-o, personagem de sorriso tímido.
Maestrina inexperiente,
Tomei da batuta
E quis reger a orquestra da vida.
Emoções descompassadas
Desafinaram muitas vezes
As notas das partituras.
Cada manhã, movia-me
O ritmo da esperança.
Não me dobraram nem o vento da discórdia,
Nem a ruptura da alegria.
Palmilhei, ora banhada pela luz do sol,
Ora pelo brilho da lua,
Um caminho de glórias e de anonimato.
Nos braços das estrelas,
Adormeci borralheira
E despertei princesa.
Seduziram-me enigmas e encantamentos,
Impulsionaram-me desejos e valores.
Entre claros e escuros,
Fantasias e realidades,
Preenchi minha essência de perfume
Que destilo pelo ar,
Atingindo todos aqueles
Que de mim se acercam.



Mardilê Friedrich Fabre

terça-feira, 20 de março de 2012

Homenagem ao Outono em Haicais



Sob céu de outono,
galhos resistem ao tempo.
Velha árvore vive.


Sobre colcha verde,
Dorme folha solitária.
Acerca-se o outono.


Domingo de outono.
A família passeia
pelo parque, ao sol.


Olhar maduro
perdido no céu de outono.
Tempo de mudança.


Outra vez outono.
Banco forrado de folhas
afasta os velhinhos.



Mardilê Friedrich Fabre
Imagens: Google

sexta-feira, 16 de março de 2012

Confissão























Continuo aqui.
Soltos, meus pensamentos
Diluem-se no vento da madrugada.
Luto para reuni-los.
Nas pontas dos dedos,
As palavras rodopiam emoções,
Batem nas lembranças,
Misturando amores e ilusões.
Rebeldes, não se ligam
Para formar a essência dos versos.
Identifico-as,
Tento em vão pegá-las,
Escampam-me.
E sem versos, como confessar-te
Na poesia impulsionada pela alma
Que sempre estarei aqui,
Embalada pelos acordes do teu aconchego,
Esperando-te, se quiseres comigo
Lançar-te em voos insensatos de novo?




Mardilê Friedrich Fabre


Imagem: Google



sexta-feira, 9 de março de 2012

Aprendendo a amar-te

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Aprendendo a amar-te

Ao ver-te, naquele momento,
Não imaginei que contigo
Dividiria meu lamento,
Que serias meu abrigo
Neste caminho cruento.

Existo porque estás comigo,
De tua alma a minha é fragmento.
A teu lado nãoperigo,
Salvas meu coração sangrento.

Floresci com o teu amor,
Com teu carinho animador.
Descortinas p´ra mim a vida.

Aprendo a te amar lentamente,
Vibro em teu espaço silente.

Refletes minha luz contida.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google


Teoria do Quindeto:
http://comocriarpoemas.blogspot.com.br/2015/01/quindeto.html

sexta-feira, 2 de março de 2012

Rotação e Translação da Poesia








Giram e giram em minha mente,
Como luzes de uma roda gigante,
Palavras escoadas do coração.
Vindas de um passado desfigurado,
Elas trançam-se em versos ritmados,
Que flutuam em névoas de emoções.
Voam na garupa da madrugada,
Cavalgando nas ternuras do tempo,
Transformando-se em poesia
Pela melodia da água livre
Que desafia os obstáculos,
Pelo voo sensual do colibri ante as flores,
Pelos dias que se espreguiçam ao sol,
Pelas gotas de brilhos nas pétalas,
Pelo sorriso nos lábios,
Que se acariciam ousados,
Pela inquietação dos olhos seduzidos,
Pelo frenesi do corpo tocado.
Letras e sílabas encadeadas em poemas
Com aroma de saudades,
Que volteiam ao som de vozes imaculadas,
Transladando-se, sementes do amor,
Pelos caminhos das quimeras.
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem
: Google