sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Era uma vez o circo...




Sob a lona do circo, a expectativa para o início do espetáculo era grande. Foram vários dias de propaganda e espera. Muito se falou sobre os artistas e suas habilidades. A montagem do picadeiro e da lona foi acompanhada com interesse, principalmente pelas crianças. A toda a hora, meus filhos vinham com uma novidade:  

Mãe, falei com o palhaço. Ele é um homem normal.” 

“Mãããe, vi a roupa do trapezista. É vermelha, bem justinha, cheia de pedras que brilham”.  

Mãe, fizeram uma pista redonda. Penduraram umas varas. Disseram que é onde os trapezistas vão se apresentar”. 

Mãe, estou louco que chegue o dia. Vai ser a primeira vez que eu vou ver um circo!” 

Finalmente, chegou o dia. E estávamos nós na primeira fila. Olhinhos inquietos fixos no picadeiro. Não queriam perder nada. 

Primeiro, entrou o apresentador:
Senhoras e senhores, apresentamos o maior espetáculo da Terra”...  

Todos os circos do mundo apresentam o maior espetáculo da Terra. que as crianças não sabiam disso. Vieram os palhaços, dando cambalhotas no ar, fazendo soar gargalhadas de todos os lados com suas trapalhadas. 
Em seguida, apresentaram-se três jovens com brilhantes vestimentas vermelhas. Subiram pelas escadas de cordas suspensas e dirigiram-se para os trapézios. Seus corpos voavam no ar, saltos duplos, saltos triplos. Seguravam e soltavam os trapézios. Saltavam, giravam e seguravam-se nas mãos de um deles, pendurado em um trapézio imóvel. Perpassava um calafrio em nosso corpo ao ver aquilo. Eram verdadeiros bólidos movimentando-se no ar. Quando terminaram sua apresentação, o público aplaudiu-os em . 

Sucederam-lhes os malabaristas. Atiravam argolas para o alto. Aparavam com os braços, com as pernas, com a cabeça. Um deles subiu nos ombros do outro e um terceiro nos ombros deste, sempre atirando as argolas para o alto e aparando-as.
Chegou a vez da menina equilibrista, que dançou em um fio de arame.

Exibiu-se também um mágico que encantou com os seus números tão perfeitos que dava a impressão de que tudo era verdadeiro. As crianças acabaram acreditando que o coelho saiu da cartola, que ele cortou a mulher pelo meio e que tirou moedas da orelha do amiguinho de meu filho. 

A contorcionista fez do corpo o que quis: colocou a cabeça entre as pernas, rolou como uma bola pelo chão... 

E o espetáculo das águas dançantes coloridas ao som da valsa Conto dos Bosques de Viena, de Johan Strauss, então? Deixou todos com vontade de ver mais, e mais, e mais.  

Durante dias, o assunto foi o circo. Ainda mais duas vezes fomos assistir ao espetáculo. E era como se as crianças o vissem pela primeira vez. Até tive a impressão de que a atenção era redobrada, porque, além de ver, queriam aprender como se fazia. Minha orelha ficou vermelha de tanto quererem tirar moeda dela. O balanço virou trapézio. Um dia impedi, na hora, um deles tentando andar no arame de pendurar roupa com a minha sombrinha. Minha filha caiu, quando tentava subir nos ombros do irmão para fazer malabarismos... 

Até que, como tudo, o circo deixou de ser novidade e caiu no esquecimento, sendo substituído pelo filme do super-homem, que entrara em cartaz no cinema.


Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: Google

6 comentários:

heloisa disse...

Eu gostei e muito.

Jorge Sader Filho disse...

Gostava muito de um circo! Coisas que passam e deixam saudades, agora vivas pela pena premiada recentemente de Mardilê.
Abraço.
Jorge

Anônimo disse...

Tenho lido sempre teu blog. Amo o que escreves. Bjs Edi

Anônimo disse...

Olá, Mardilê querida.
Amei a sua crônica sobre o circo que chegou à cidade!!!
Senti uma leveza tão grande, que é como se eu fosse a criança que olha, pela primeira vez e embevecida, um espetáculo circense. Não a mãe, apenas porque a esta não sobra a mágica curiosidade da criança que estreia o seu olhar admirado.
Não importa muito saber que – como disse um dia o Chico Buarque na sua magistral “A Banda” – tudo voltou ao lugar, depois que o circo passou. Importa é o que ficou.
Um beijo.
Irany

Em Tempo: Parabéns pela homenagem (mais uma!) que você foi receber em São Paulo, em razão do que
envio-lhe meu especial abraço.
Irany

Fanzine Episódio Cultural disse...

“IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”

A Academia Machadense de Letras (Machado-MG / Brasil) comunica a realização em novembro de 2013 de seu IX Concurso de Poesias. Para receber gratuitamente o regulamento em arquivo PDF, entre outras informações, favor entrar em contato através do e-mail: machadocultural@gmail.com

Obs (PS): O tema é livre.

Giovanna Zoppas Pierezan disse...

Amei, Mardilê! Parabéns! Descreves perfeitamente as emoções. Beijos