quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É o meu pensamento



Não é o canto do vento
Que me faz pensativa,
Não são as nuvens de chumbo
Que me introjetam em mim,
Não é a fúria da natureza injuriada



Que me despedaça paulatinamente,
Não são as palavras orvalhadas
Que me trazem as lembranças,
Não são os versos contraditórios
Que me derretem a alma,
Não são os poemas impetuosos
Que me conduzem ao precipício,
À beira do qual nãosinais
Da poesia que transcende a labareda da essência...
É o meu pensamento esvoaçante
Que, viciado, não quer ficar no presente.
Se não o vigio, regressa ao passado,
Onde se detém até desfrutar da vida
Que não é mais minha.
Arrasto-o de .
Envolvo-o,
Adulo-o,
Embebo-o de emoção,
Mas na primeira distração,
Descubro-o bebendo do cálice do passado.
sem forças para lutar,
Aceito que ele devaneie,
Até que, pela janela, aberta,
Entra a borboleta translúcida,
A quem ele segue em rodopios
E atinge o resplendor do presente.

Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

3 comentários:

heloisa paz disse...

Pensamento que voa, escapa do presente e se instala, ligeiro e leve, no teu passado, Mardi.

Jorge Sader Filho disse...

É por causa de poesias como "É o meu pensamento" que Mardilê vem aparecendo cada vez com mais força na literatura.
Abraço.
Jorge

Anônimo disse...

Lindo, Mardilê.

bjus.
gladys