sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Conflito



Uma paz sem procedência
Ilude o poeta
E devolve-lhe a calma.
O céu avermelha-se,
Repousa seu presente
Na fímbria da terra.
A noite aproxima-se lentamente,
Enlaça a existência.
Conduz consigo a formosura da lua
E o cintilar desconcertante das estrelas.
Pelo ar espalha-se fragrância
De afetos ocultos.
Nos vincos das mentes românticas,
O passado, teimoso,
Turva o presente.

E trava-se o conflito...
A imaginação fértil
Apoia lembranças sem data,
Diluídas nas águas dos sentimentos.
Suspiros embebidos em notas musicais
Emergem das sombras.
Dó que atravessa tempos de sol
Desce de lá com palavras de Fá.

O presente destrói o muro
Que o separa de outrora.
Torna-se doce,
Corta os infortúnios,
Aproveita o fulgor da lua,
Intervém com asas de anjo,
Invade o caminho do tempo,
Transforma momentos em magia,
Confunde a alma ingênua
Que se refugia na quietude
Das dobras das horas dormentes.

O passado não quer ser esquecido.
Envia sua mensageira
Sempre presente.
A saudade atinge em cheio
O poeta que, aturdido pela desordem
Dominante em seu coração,
Converte-se em refém da esperança
De retratar em versos
O enredo de sua jornada
Entre emoções molhadas pela essência
De suas inquietações inocentes
Que culminam no voo solitário
Para o silêncio de si mesmo.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem:www.fotolog.com

5 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo. Parabéns. - Ilda Maria Costa Brasil

CCF disse...

Prezada Mardilê, acabo de chegar de uma palestra do Poeta e escritor Manoel Erzog. Ai chego em casa e sou levado a ler o seu belo Poema...Com certeza vou ter uma bela noite de sono. Só a poesia para proporcionar isto.

Jorge Sader Filho disse...

É o mais profundo de todos, o silêncio de si só.
Abraço.

Unknown disse...

Conflitos nos levam a meditar e deixar registrados de alguma forma elementos que nos superaram sejam na memória ou na escrita...Belo poema Mardile gostei

renate gigel disse...

Belíssimo.
bj
re