sexta-feira, 13 de julho de 2012

Carta de Amor



Hoje, dia muito frio, nostálgica,
Resolvi revirar minha gaveta de guardados,
A gaveta das recordações.
Cada objeto tocado
Reflete de imediato uma imagem.
Um caderninho...
Nada escrito,
Mas entre as páginas em branco,
Pétalas secas,
Flores recebidas em dia especial...
Desvio o olhar,
No cantinho, dobradinha,
Uma folha de papel amarelada...
Que será? Não me lembro.
Abro-a com cuidado.
Coração bate mais forte...
Emoção...
A primeira carta de amor que recebi.
Quantos anos eu tinha?
Quatorze? Quinze?
Diz das noites insones
Que ele passava pensando em mim,
Do brilho dos meus olhos negros
(são negros os meus olhos?),
Dos meus lábioscarnudos
(ainda enrubesço ao ler essa palavra),
Do meu andargingado”,
Do meu perfume adocicado
(que perfume eu usava?),
Da vida que eu exalava,
Da mudez que o assolava,
Quando estava perto de mim,
Do calafrio que percorria seu corpo,
Quando dançava comigo
(aprendemos a dançar um com o outro)...
Leio-a e releio-a.
Depois de tantos anos,
As letras bailam embaçadas,
Como na primeira vez em que a li.
Desisto de continuar.
Guardo a carta no mesmo lugar,
Do mesmo jeito.
Fecho a gaveta.
Olho para o céu ,
No azul brilhante,
Um rosto desbotado pelo tempo.


Mardilê Friedrich Fabre

Imagem: Google

5 comentários:

Anônimo disse...

Mardi,

Muita nostalgia mesmo.
As lembrancas vieram como se fosse um filme e me lembrei de quem escreveu a carta e que perfume vc usava (cheguei a visualizar o frasco). Foi uma viagem no tempo.

Bjs, sua irmazinha

Jorge Sader Filho disse...

Coisas antigas. Bilhetes, cartas, retratos, recordações.
São elas que nos fazem gente!

Abraço,
Jorge

jacó Filho disse...

Um trabalho magnífico! Adorei... Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...

Anônimo disse...

Oi, Mardilê, ao ler esse teu poema bem intimista, retornei à minha juventude. Tive uma namorada, eu com 17, ela com 15, em que o nosso namoro consistia basicamente em cartas, já que ela morava em P.Alegre, e eu em São Léo, e não havia $$$ para vê-la assiduamente. Lembro-me de falar dos olhos delas(negros também, pareciam duas jabuticabas maduras).
Ah!, bons tempos! Obrigado por me fazer retornar a eles.
Claiton

Anônimo disse...

Oi, mardilê querida. Espero que vc esteja conseguindo enfrentar corajosamente os dias frios. Particularmente, eu não gosto do inverno assim rigoroso, ainda que, por sorte, não úmido.

Fiquei bem contente em vê-la dedicada à sua coluna semanal. Desta vez, sua poesia intimista (terá sido obra dos dias de frio que nos convidam a ficar em casa, quietinhos?) se fez parceira de mts que a leram, porque mts são, certamente, os que se reconhecem nela. Estes são os afortunados.

Lindíssima poesia! Mesmo falando de boas lembranças, é fácil a quem escreve escorregar na melancolia, mas a sua “carta de amor” é pura beleza.

Um bom final de férias para vc. Bjinhossssss. Irany