sábado, 20 de fevereiro de 2016

Descompasso das palavras



Chocam-se palavras em conflito.
Presas na concha do coração,
Surpreendem-se com a aflição
Do que para o papel eu transmito.

Associam-se de uma maneira,
Mas meus dedos desobedientes
Entornam sentimentos prementes
Que coam solidão prisioneira.

Aos sonidos falta sintonia.
Libertam-se sem rumo, sem norte,
Ofuscam-me a mente, seu suporte,
Dispõem as cordas da poesia.

Pasma-me do poema o final.
Meu intento era a alegria cantar,
Mas as palavras vêm exclamar
O inusitado, o excepcional.

Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: doam-sepalavras.com.br

2 comentários:

Jorge Sader Filho disse...

Parece, amiga Mardilê, que os dedos nunca são muito obedientes quando se escreve poesia.

Anônimo disse...

Qta beleza jorra, impaciente, de seu ser, Mardilê querida.
Não importa se o seu corpo se nega a traduzir-se em poesia, sua alma – a alma, sempre ela – rebela-se e fala por ambos.
Torço pelo retorno de sua saúde.
Um grande beijo.
Irany