sábado, 16 de abril de 2011

Caso Kliemann: a história de uma tragédia, de Celito De Grandi


Professora recém-formada, iniciando a carreira, acompanhei pelas rádios e pelos jornais de 1962, com grande interesse, este cruel acontecimento que comoveu o Rio Grande do Sul e atravessou suas fronteiras. Entre os professores, na hora do recreio, em sala de aula com os alunos, comentava-se o caso, especulava-se sobre o assassino, criticava-se a ação da polícia. Meus alunos tinham mais ou menos a idade das meninas órfãs e talvez isso tenha atiçado seu imaginário, principalmente quando surgiu a misteriosa personagem “Dama de Vermelho”.

Chocada e sensibilizada com a morte violenta de Margit Kliemann e o sofrimento por que passavam aquelas três meninas, pois fazia pouco que eu perdera minha mãe, e isso se refletiu na minha vida de um modo desalentador, eu imaginava como estariam se sentindo elas.
Como eu li e ouvi na época as matérias, ao ler o livro me deparei com personagens conhecidas, embora nunca as tivesse encontrado pessoalmente.

Eu tinha ficado com a impressão de que sempre houvera algo que as pessoas queriam esconder, de que as investigações não tinham sido conduzidas corretamente, de que não havia nenhum indício de quem era o assassino, de que era um destes casos sem solução, do qual nunca descobriram o assassino.

Como se não bastasse Margit ter sido assassinada daquele jeito, também Euclydes foi alvejado mortalmente pelo vereador Karan Menezes, o Marechal, durante um programa de rádio que ia ao ar. O assassinato foi ouvido por muitas pessoas. Foi muito desgraça numa família só.

Este livro, a meu ver, esclarece, pelo menos para mim, depois de quase 50 anos, algumas dúvidas, e a principal é de que não foi Euclydes Kliemann o assassino da sua mulher, e sim Luiz Fernando Kurth, sobrinho de Euclydes. Algumas passagens da obra levam a crer que Euclydes estava protegendo o nome da família e sua irmã do desgosto de saber que fora seu filho o causador daquele bárbaro crime. Por exemplo, o modo como Euclydes respondeu para a filha Cristina, então com nove anos (criança é espontânea, diz o que pensa e o que sabe), quando ela lhe perguntou se não fora o Luiz Fernando.

Há que considerar que os políticos da oposição aproveitaram este lamentável episódio para agirem. Afinal, ele estava fragilizado e era um político em ascensão, inteligente, corajoso, ousado e com um bom eleitorado.

Nota-se que este livro é o resultado de um trabalho sério de pesquisa, tendo Celito De Grandi o cuidado de publicar apenas o que interessa para a compreensão e o desenrolar da narração. O autor faz um apanhado dos acontecimentos numa narrativa em dois tempos, de tal forma que os episódios se encaixam, não ficando soltos, nem deixando vãos, ilustrada-a com fotos dos jornais da época (reproduzindo as manchetes), de uma família que vivia feliz, de um homem que chora a perda da mulher que amou e das filhas atualmente. Nela percebem-se todas as características jornalísticas, não se desviando o seu autor de sua profissão. É objetiva, simples, focando os fatos com precisão, entrelaçando os acontecimentos passados com depoimentos presentes, com destreza, propriedade, dando voz a quem hoje já pode falar com serenidade, embora com pesar, sobre a tortura que suportou ao perder brutalmente os pais, pois só o tempo pode esfumaçar as imagens e aplacar o tormento de num segundo ver seu mundo esboroar irremediavelmente.






Mardilê Friedrich Fabre

Imagens: Google


2 comentários:

Jorge Sader Filho disse...

Não conhecia o caso.
O que chama a atenção na crônica - acredito que seja - de Mardilê é o afastamento de opinião pessoal sobre o fato. É difícil, isto. Os comentaristas sempre deixam seu ponto de vista, mas aqui ele é velado.
Ou seja, um caso simples pode virar um tumulto.

Abraço,
Jorge

Fábio Vinícius disse...

Eu também não conhecia o caso, mas fiquei muito interessado no livro.

Abraços Mardilê.